25.12.11

em mais um capítulo da vida que não é minha, as construções tendem todas a desabar. e eu assisto as ruínas da própria sorte se desfazendo com uma inexpressão digna de quem já viu coisa muito pior. enquanto quilos de concreto e paredes coloridas vão às ruínas em minha frente, um cheiro floral corre por perto dali, num outro quadro emoldurado com fios de ouro. quem era dona daquela ousadia que se concretizava enquanto bem do lado tudo se desconcretizava, literalmente? eu vi todos os quadros possíveis ao meu redor. enxerguei a amargura do quadro vazio, tela branca. sem nenhuma resposta. mas também sem nenhuma pergunta. o quadro ao lado, listrado com várias cores, onde flores, balões e confetes pintados aleatória e abstratamente reinavam, torturavam a mente atônita de quem assistia à destruição de vários prédios ao mesmo tempo, isso porque o inferno daquelas cores de um dia feliz eram agonizantes para quem só tinha dias cinzas. sem nenhum sofrimento. mas também sem nenhuma emoção. o quadro com as estrelas que mais pareciam um sonho zodiacal era o mais bonito. e também o mais velho. e o mais feliz. dentre tantas alegrias com tanta gente que figurava por lá, as estrelas e sua imensidão era o que mais parecia ser possível e passível de minha realidade. era somente por aquele quadro que minha pupila dilatava de forma realmente feliz. porque era só por mim. enquanto tudo era minuciosamente jogado ao destino ou ao passado, as estrelas continuavam a brilhar e isso me dava uma força impressionante. é por elas que ainda continuo. existem muitas queimando dentro de mim, que nem as que explodem no universo. porque cada um de nós tem um universo sem fim dentro de si: mais clichê impossível, mas quem é que sente diariamente essa explosão? fica de cama quando algo sai errado dentro do próprio quadro celestial? é como se dentro de mim não houvesse coração, pulmão, estômago, mas todas as estrelas dessem lugar ao pulso, à respiração, à azia de um desamor. é por isso que permaneço estática diante de tudo o que desaba bem em minha frente. se um estilhaço me pegar, nada mais acontecerá do que, mais uma vez, sangrar. a convicção de que a vida vai continuar, cinza ou não, é plena. eu já vi tanta coisa. dou a volta em meu próprio corpo e vejo tudo. dentro de um círculo totalmente sem respostas, eu me acho somente no universo que existe dentro de mim e lá mergulho, afundo e permaneço.

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