13.7.21

warning sign e outras músicas

 tenho escutado músicas antigas do coldplay. na verdade, escuto coldplay desde 2002, quando "trouble" veio me mostrar um mundo novo. bom, o que quero dizer é que escuto coldplay há tempos, mas naquela época não me passava a mensagem que hoje passa.

agora, mais velha, depois de tanta coisa que passei nesses quase 20 anos escutando a mesma banda, entendo o que eles queriam dizer lá em trouble, clocks, parachutes, don't panic, shiver...

tenho everything's not lost porque muito cedo entendi essa.

mas tenho escutado bastante e percebido como combinam com vários momentos da minha vida e, mesmo eu escutando tanto durante todo esse tempo, não me toquei o quanto. não senti. não vivi a música. vivi a vida, como eles sempre mandaram, mas... é como se muita coisa fizesse sentido agora.

ultimamente warning sign não me sai da cabeça...

https://www.youtube.com/watch?v=nMsuF5y6HBo


A warning sign

I missed the good part then I realized

I started looking and the bubble burst

I started looking for excuses


Come on in

I've gotta tell you what a state I'm in

I've gotta tell you in my loudest tones

I started looking for a warning sign


When the truth is, I miss you

Yeah the truth is, that I miss you, so


A warning sign

You came back to haunt me and I realized

That you were an island and I passed you by

And you were an island to discover


Come on in

I've gotta tell you what a state I'm in

I've gotta tell you in my loudest tones

That I started looking for a warning sign


When the truth is, I miss you

Yeah the truth is, that I miss you so

And I'm tired I should not have let you go


Ooooooooooooooooo


So I crawl back into your open arms

Yes I crawl back into your open arms

And I crawl back into your open arms

Yes I crawl back into your open arms

Insone

No desespero da insônia

Na mansidão dos olhos abertos

Da noite que se esvai

Do sono que retrai


Na imensidão de um só ser

Onde o silêncio é espinho

O desejo faz aparecer

De novo aquele moinho


Que sopra um furacão

Mesmo devendo ser calmaria

Fez temporal, chuva de verão

Derramou, ainda derramaria 


Ainda na noite o silêncio se quebrou

Com um barulho indecifrável 

No meio do calor inenarrável 

A garganta numa sede insuperável 


Nesse nada, nesse vazio

Um grito no meio da rua

Uma explosão a mais de mil

Um raio que me partiu


Suspiro, respiro e não acredito

Que ainda é verdade

Ainda sei escrever, resisto

Não tem luta na maldade


As palavras ao amanhecer 

Não são as mesmas de agora

O sintoma faz ferver

A febre passou da hora


Quando a claridão se fizer

Os olhos hão de esquecer

O sentir há de entardecer 


E mais uma uma vez

A alma chora


(escrevi em 15/04)

28.3.21

faz muito tempo que venho pensando no amanhã

não tenha dúvidas que vivo o hoje, ah, não duvide

são coisas tão mais simples as que passaram

são sentires tão mais óbvios os que soaram

e eu que pensei que crescendo ia me ajeitar

que nada, tudo continua num tom confuso

mas agora com alguns cabelos brancos

antes o vinho ajudava a desanuviar ideias

mesmo que as confundisse, é assim que funciona

depois de tanto tempo, mais uma vez

faço do vinho meu amigo colorido

faço das palavras um segredo tão bonito

e quem disse isso?

foi a profundeza que ainda existe por aqui

e eu não havia percebido

a criatura ainda mora aqui 

(será que um dia cria lar?)

(acho que o lar criado foi em mim)

como expulsá-la? é tão quentinha

então eu resolvi escrever novamente

para que eu possa dizer

é o vinho que me aquece

e a palavra que se esquece




e é isso de novo e sempre

que faz eu me lembrar

de quando em quando

de quem eu sou


que bom

16.2.21

trinta e dois

estou cercada. mais um ano se vai. e não sei ao certo ainda de onde sou. não sei ao certo ao que vim. necessito de uma enorme alegria para talvez pertencer ao meu próprio ser. e não sei ser. não consigo, sou desvinculada de mim e do mundo. mesmo em meu mundo particular, meu mundo de dentro, sinto-me estrangeira muitas vezes. fico velha, fico antiga, fora de moda. não ganho mais como ganhava há dez anos. estive esperando o dia, há dez anos. e há vinte. mas não espero mais nada. só espero continuar. não por nada, não costumo ser (tão) pessimista, mas é que ultimamente tudo virou de ponta-cabeça e não conhecemos mais o presente como costumava ser no passado. sinto falta desse passado que nunca mais será futuro, estar trancada em casa faz com que me tranque também em mim. estou triste. necessito de uma enorme alegria para talvez pertencer. minhas idades memoráveis terminam no número dois. muita coisa aconteceu aos doze. aos vinte e dois. aos doze eu me descobria, aos vinte e dois eu me deslumbrava. sei lá o que vai nos trinta e dois. talvez eu me reinvente. quem sabe eu me encontre. quem sabe eu pertença.


...

sou uma presa de mim mesma, predadora distraída.

1.8.19

olfato*




alguma parte do meu corpo ainda possui teu cheiro
pois quando minha blusa tirei
de ti me lembrei
de uma forma instantânea eu te senti em mim
como há muito não me acontecia
eu fecho os olhos e paro pra pensar em tudo que já foi pensado
mas tudo que consigo imaginar
é o teu corpo com todo teu cheiro passando perto do meu que se fez tão teu
perto da tua porta
que hoje em dia paira na minha memória
bem do lado da música
aquele sintoma que trataste de esconder
a paixão toda me corroendo a alma
e me fazendo lembrar, sutilmente, do teu cheiro
meu violão ficou com teu cheiro
fui dormir sentindo teu cheiro
e não tem nada mais bonito...

quero-te

mais uma vez

repito

não há nada mais bonito
do que sentir teu cheiro
de repente...
o teu cheiro...
meu corpo ainda sente.




*em abril de 2009, há mais de 10 anos, eu tinha meus 20 anos e estava alucinadamente apaixonada; vivi então uma série de sensações que resolvi escrever; vim lembrar disso agora, para ver se ainda gostava do que tinha escrito. não é que até gostei?

9.11.18


Uma alma feroz que não é bem domesticada
E por isso perde pessoas como uma criança perde os dentes
Ninguém voltaria por um bicho complicado
Assim como ninguém entende o que se sente

Por tantas vezes desejei ser sozinha
Sei do meu espírito animal
Não desejei ter laços, não tenho linha
Tantas vezes eu só achei que fiz mal

Com o passar do tempo isso também passaria
Mas não passou, nem passará
Como pássaro só sei voar
Só não sei se me há lugar

E quero ir para longe
Porque não consigo estar engaiolada
Mas a dor da solidão
É uma grande malcriada

18.10.18

retorno

das noites sombrias antigas
herdei a alma lenta e molhada
como se a chuva estivesse aqui
como se meu universo fosse um nada

foi naquele tempo, de quando escrevia
que nasceu uma flor em meu peito
porque o que era poesia
transformou-se num grito sutil, com jeito

e desse escândalo fez-se a calma
como há dez anos eu não imaginava
a maturidade trouxe a flora, a fauna
tudo desabrochava, tudo revolucionava

eu não sou eu de muito tempo
tu também não és como me lembro
mas a inspiração de agora há pouco
(rio, pois não foi o vento)
até me fez retomar algo bolorento

talvez eu ainda saiba dizer
o que tão facilmente dizia
talvez ainda tenha palavra aqui dentro
a flor pode não se limitar à azia
da antiga noite sombria

4.2.18

fantasma.

Domingo à noite parece ser realmente a hora mais solitária do mundo. Acredito que algumas coisas aconteceram no domingo apenas porque de noite temos um outro pensamento. Domingo à noite, um pouco depois do sol se pôr, os fantasmas surgem. Com medo, desde cedo eles te acompanham. Mas, com sorte, eles te esquecem um pouco dependendo do quanto consigas sorrir. Tive fantasmas e tenho medo. Com muitos, aprendi a conviver. Passo os dias conversando com eles e quando percebo meus fantasmas sou eu mesma. Não estão em mim, sou eu. Talvez eu tenha tanto medo por saber de que sou cheia. Fico espantada de ainda conseguir me erguer. Pesa, por vezes. Em todo o caso, por mais solitária cheia deles que me sinta, sou ainda cheia de "talvezes": talvez isso me passe, talvez aprenda a conviver comigo mesma em paz total um dia, talvez entenda que não tem muito mistério, é só ir indo. É só ter força, não sempre, mas sempre que necessário. Ser fraca pode me fazer forte, por assim entender muita coisa. Entendi tanto que nada me restou de poético, nem uma linha, nem um sonho, nem uma fantasia. Foi-se o tempo. Por isso acho que me fui daqui. Ainda amo. Mas acabo mais vivendo do que sonhando. Isso é bom. Meus fantasmas agradecem.

1.8.17

meu amor é um bicho

meu amor é um bicho
um bichinho cheio de manha
que todo o dia
mais um pouquinho me ganha

meu amor é um bicho
que precisa correr e gritar
e que às vezes é calma
mas é livre e escolheu amar

meu amor é um bicho
que nunca pensei me escolher
entre tantas por aí
resolveu comigo viver

meu amor é um bicho
mas também se faz canção
e também se faz ninho
vive sendo paixão

meu amor é um bicho
que me encontrou por aí
que enche de alegria meu coração
que anda comigo a sorrir

meu amor é meu bicho
que deita em meu colo
que acalanta meu sono
e que existe fora do sonho

31.7.17

2002

faz muito tempo
foi uma longa jornada
eu lembro de tudo
e enquanto eu relembro
penso no que sou hoje
mudei tanto
mas permaneci em mim
sinto-me grande
mesmo que tão pequena
é como se tantos anos passados
servissem para me mostrar
que eu sou eu ainda
mas eu sou tão mais eu
e é motivo de orgulho
escutando a música
que há 15 anos me fazia pensar em futuro
lembro do passado
e já são 15 anos...
deu vontade de chorar
o que fiz nesse tempo todo?
será que era esse o caminho?
será que devo crer no destino?
acho que sim
muito eu mudei
muito me mudou
muito me feriu e transformou
mas na essência, ainda sou eu
continuo acreditando no amor
mesmo que não exatamente o mesmo conceito
mas todo esse tempo
me fez mostrar que o tempo...
ah, o tempo...
o tempo não nos diz nada se não sabermos lidar
com ele
com o tempo a gente aprende o tempo
e agradece ao senhor do tempo
todo o tempo que tivemos e temos
e que bom que eu sou o que sou hoje
e ainda temos tanto tempo...