19.4.15

show what I want to show

Escrever por conta de quem não se importa mais comigo me dá raiva.
Ficar com raiva o tempo todo por perceber que estou com raiva por conta de alguém que não se importa comigo me deixa triste.
No fim de todas as possibilidades, eu sofro o sentir. Quem não se importa comigo, não. E isso me deixa atordoada.
É um ciclo aparentemente sem fim, com exceção de que já passei por ele algumas vezes e sei que termina. Mas enquanto não termina, é interminável.
Ele costumava ser um porto seguro para divisão de pensamentos, problemas, sentires, pequenas alegrias. Não porque eu quis que assim fosse, e sim porque eu acreditei quando me foi dito (não só uma, mas várias vezes) "pode falar". Falei, não tudo, claro, eu tenho um pouco da cabeça do lugar. Mas falei algumas coisas e confiei.
Ainda sinto falta disso. Faz falta meu amigo.
Obviamente faz falta o resto também, essas coisas da paixão que todo mundo conhece. Mas o que era confiança e amizade hoje se tornou uma grande saudade.
Sinto falta de saber que podia conversar com alguém que gostava tanto de mim que me deixava falar.
Mas quando eu não pude mais falar, percebi que havia algo errado.
Não saí, não fui embora. Deveria. Quem sabe hoje estaria com menos raiva de mim.
Mas não fui. Escolhi pagar para ver e infelizmente vi o pior. Mas a gente vai se grudando aqui e ali para no fim voltar a ser a gente mesma.
Sinto falta dele, de meu amigo, de quem eu aprendi, dia após dia, a gostar e a admirar, sinto.
Só que não consigo deixar de sentir mais falta ainda de mim mesma. De mim mesma sem essa raiva, esse ressentimento de mim, essa tristeza por alguém que não se importa mais comigo.
Anseio por soluções, pelo tempo que sei que passa. Porque mais do que a ele, eu me quero de volta.

16.4.15

desrelembranças

fiquei por certo tempo me questionando sobre escrever ou não
eu te escrevi uma carta
a carta dizia em duas linhas o que nunca tive coragem
porque eu sempre achei que dizer amor era entregar o ouro
mas eu te disse
afinal, nada mais tinha a perder

tu já te foste
teu cheiro permanece
tua relembrança que passa a toda hora
até mesmo quando descanso ou tento
és tu que ameaças meus sonhos
e me deixa insone
exatamente como estou agora

gostaria com todas as forças
de verdade, para meu próprio bem
que fosse mais fácil, mais leve
mas os danos emocionais e até físicos
são tão visíveis
eu não tenho mais como negar

não que eu tenha tentado negar
mas eu te escrevi tanto
e te sonhei, sem sequer querer
e acordei ao teu lado
enquanto dormia ao teu lado, aliás
e sentia os beijinhos roubados
sonhei contigo também

pode ter certeza, bonito
eu queria ser que nem tu
eu queria poder fechar os olhos tranquila
queria poder parar de sentir saudade
queria que fosse logo
para assim nosso tempos combinarem
não por nada,
mas sentir falta de quem não nos sente
não vale muita coisa

eu não queria me despedir
mas estivemos nos despedindo,
por incrível que pareça,
desde que estive aí na primeira vez
eu estive sozinha após isto
vivendo algo que pensava que existia
apenas com a minha solidão

estou muito cansada de ficar buscando culpas
eu tive culpa por ter tentado demais
ainda não me desculpei por isso
eu te quis
(ainda quero [porém não])
de uma forma que pensei que poderia ser
tu me disseste tanto que poderia ser
eu acreditei
foste meu amigo
foste o cara que eu gostei
o canto mais aconchegável do mundo
mesmo que tão distante

foste tanto que não sei dizer
não sei explicar qual minúcia faz mais falta
tua casa, tua voz, tua pele
aquela intimidade tão natural
tão estranhamente comum
como se mesmo após dois meses ou um
eu tivesse te visto ontem
agora estou há uns 10 dias sem ti
sem teu verdadeiro eu, o de perto
que parece que nunca te conheci
a diferença é que sim
o problema é que te conheci
e tu a mim

eu pensei em escrever aqui
tão abertamente
mas escrever é meu delírio
meu castigo
pensar muito, falar muito
são meus defeitos mais importantes
são as coisas que fazem de mim eu mesma
e eu não vou parar de ser eu mesma
mesmo que tu não sejas tu mesmo
(aquele que conheci)
nunca mais

ninguém vai me impedir
de ser o que sou
ninguém me manda falar menos
ninguém me manda calar a boca
não aguentaste o tamanho de alma que tenho
a mulher que sou
o amor que eu poderia compartilhar

se te culpo?
não por isso
mas por me fazer acreditar que eu poderia acreditar
a gente não brinca assim com alguém
a gente não brinca assim com uma alma como a minha
porque nessa brincadeira
eu te amei
e te amo

porém foda-se

e com isso quero dizer:
sinto saudade
mas melhor sozinha
do que solitária acompanhada

quero dizer:
quero teu beijo
quero o início
quero o bonito do começo
mas que sei que já passaram

quero dizer:
eu te amo
mas amo mais a mim
(e a qualquer hora eu deixo de te amar)

---

sonhei com a casa
de novo
eu estava sozinha

where we are where we are



13.4.15

Dancing with my own shadow

Aquela casa que não sai da cabeça. Os monstros todos criados e recriados de uma imaginação confusa, quase infantil ou mesmo quase tão evoluída que nem cabe dizer.  Mas a casa persegue os instintos, persegue meu racional, além do cheiro. Quero desesperadamente pedir, gritar, chorar "socorro, alguém me ajuda", mas estou muda. Um silêncio que nasce nas entranhas, sobe pelo estômago e estaciona na garganta e nos olhos. Nunca estou pronta. Nunca estaria. O cheiro e a casa não me deixam estar pronta para isso. Então, fico muda. Sem coragem, sem certeza, sem cor. Com saudade.

8.4.15

Lakehouse

"Onde estamos?"

Essa é uma pergunta que não tenho resposta.
Tu estás cada vez mais dentro de mim, em pensamentos constantes, de quando em quando. Mas sempre tu estás. Existe tanta vontade que faz com que o mínimo pensamento se transforme em saudade. E essa coisa me toma, abafa, atormenta. Não sei lidar com distância. Talvez por isso eu queira tanto estar perto, no leito, no peito.

Sinto saudade do início.

Sinto saudade de ti.

Sinto.

Aquilo que prometi não dizer, sinto.